44 anos antes de Chico Mendes nascer, no Acre, já existiam conflitos de terra. A área que hoje é o estado do Acre foi disputada num confronto armado entre Bolívia e Brasil, os seringueiros por fim, comandado por Plácido de castro, retiraram os 15 milhões de hectares das mãos dos bolivianos. O tratado de Petrópolis, de 1903 deu a posse definitiva do Acre ao Brasil. Os seringais tornaram rica a região do Acre. A riqueza da borracha atraiu muitos nordestinos á região. Um deles foi o avô de Chico Mendes. As famílias que se mudaram do Ceará para a Amazônia tiveram de se adaptar a um meio ambiente totalmente diferente. Úmida, escura e fechada a Amazônia era uma selva de insetos, doenças que se propagavam. Não havia escolas e nem hospitais. Embora o Brasil estivesse ganhando milhões de dólares com imposto sobre a extração da borracha, o governo não reaplicava um centavo na região da Amazônia. Todos os aspectos da vida representavam, então, um novo desafio. As Famílias ficaram dispersas pela floresta, muitas vezes separadas por quatro ou cinco horas de caminhada. Toda família caçava e colhia na floresta o que não podia plantar comprava dos caixeiros-viajantes.
Em 1944, nasce no seringal Porto Rico em Xapuri – Acre - Francisco “Chico” Alves Mendes Filho. Aos nove anos, Chico Mendes já acompanhava seu pai na floresta; Aos onze tornou-se seringueiro em tempo integral, nesta mesma época, a família mudou-se para a colocação Pote Seco no seringal Equador próximo à cachoeira, durante o dia Chico cortava seringa, caçava e a noite Chico lia alguns livros e se inteirava das noticias através de jornais quase sempre com atraso de semanas. Com doze anos Chico Mendes conheceu Euclides Fernandes Távora, aliado de Carlos Prestes. Euclides havia participado da intentona comunista em 1935, preso, conseguiu fugir e escondeu-se no meio da floresta Amazônica perto da colocação dos Mendes. Foi com Euclides Távora que Chico começou a entender o significado da exploração dos seringueiros, a luta de classes sempre com referencias a Lênin e Marx.
As aulas de Távora tiveram uma interrupção quando Chico estava com 17 anos e teve que trabalhar horas extras para sustentar sua família, pois sua mãe e irmão mais velho morreram. O aprendizado político de Chico com Távora foi retomado nos anos seguintes, Távora conseguiu um rádio, onde juntos Távora e Chico Mendes ouviam os noticiários em português da central de Moscou, BBC de Londres e Voz da América. Analisando os fatos e as noticias, Távora infundia em Chico a consciência da geopolítica e o lugar do Brasil no jogo de tração entre comunismo e capitalismo. Com Távora, Chico aprendeu não apenas a ler em jornais, mas também a pensar e recolher elementos para compreender o país e a condição dos seringueiros. E foi assim que teve inicio, embora isoladamente, um trabalho incessante de conseguir a autonomia dos seringueiros.
Com a chegada do movimento sindical ao Acre por volta de 1974, Chico encontrou um aliado forte para organizar as bases, difundir suas idéias e fortalecer o movimento. Chico Participou do primeiro curso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em 1975, sobre os direitos da terra e organização sindical, onde causou forte impressão, pois estava a um nível bem superior a outros trabalhadores, pois além de ler e escrever bem, conhecia os fundamentos da filosofia sindical.
Com a chegada do movimento sindical ao Acre por volta de 1974, Chico encontrou um aliado forte para organizar as bases, difundir suas idéias e fortalecer o movimento. Chico Participou do primeiro curso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em 1975, sobre os direitos da terra e organização sindical, onde causou forte impressão, pois estava a um nível bem superior a outros trabalhadores, pois além de ler e escrever bem, conhecia os fundamentos da filosofia sindical.
A igreja católica teve importante papel na trajetória de Chico Mendes, foi militando nas comunidades eclesiais de base que Chico cultivou lideranças e um combativo senso de propósito entre os isolados habitantes da floresta.
A ocupação intensiva gerenciada pelo governo na Amazônia na década de setenta atingi também o Acre. Agricultores e pecuaristas oriundos do sul do país chegam ao Acre para explorar a terra, substituindo os seringais, derrubando a floresta para a implantação de fazendas de gado. Como conseqüência das derrubadas, 10 mil famílias de seringueiros sem trabalho acabaram por virar favelado nas periferias de Rio Branco, capital do Acre, ou na Bolívia.Conforme crescia a especulação das terras no Acre no final dos anos setenta, os trabalhadores começaram a se organizar para a tarefa de impedir os cortes.
Chico Mendes agora passa a ser visto quase sempre nas estradas da floresta, recrutando os seringueiros a se sindicalizarem e participarem dos empates. Nos empates, os seringueiros, acompanhados de mulheres e crianças, colocavam-se entre as árvores e os tratores e motosserras para impedir a destruição das florestas do Acre.
Chico Mendes agora passa a ser visto quase sempre nas estradas da floresta, recrutando os seringueiros a se sindicalizarem e participarem dos empates. Nos empates, os seringueiros, acompanhados de mulheres e crianças, colocavam-se entre as árvores e os tratores e motosserras para impedir a destruição das florestas do Acre.
No inicio Chico encontrou dificuldade em convencer as pessoas a se sindicalizarem, por que os fazendeiros espalharam rumores de que a operação possuía uma inspiração comunista; Mas as comunidades de base deram-lhe uma estrutura e ele acabou por encontrar pessoas conscientes de seus direitos básicos e da possibilidade de determinar seu próprio destino. Chico participou ativamente da implantação do Projeto seringueiro, onde consistia na construção de escolas nos seringais para alfabetizar os seringueiros e, utilizando uma metodologia inovadora, conscientizá-los dos seus direitos.
A convite de um comerciante da Cachoeira, Guilherme Zaire, Chico Mendes sai candidato a vereador em Xapuri pelo MDB, no ano de 1977; No começo, os líderes sindicais rejeitam a idéia, mas Chico acabou por convencê-los de que seria mais fácil criar o sindicato rural em Xapuri se ele fosse vereador. Chico foi eleito a vereador e, logo depois, foi fundado o novo sindicato dos trabalhadores rurais em xapuri.
Chico Mendes dedicava agora todo seu tempo na organização dos seringueiros para o 1º encontro nacional, a comunidade internacional enfim começava a se sensibilizar e se articular para exigir do governo brasileiro uma postura mais rígida com relação às queimadas e desmatamentos na Amazônia. O conflito entre os dois modelos de desenvolvimento, um baseado na pecuária extensiva e outro baseado no extrativismo dos recursos florestais parecia que caminhava para um desfecho de entendimento entre as partes. Chico Mendes era figura mais atuante no movimento sindical e ambientalista. Porém Chico acreditava que uma atuação político-partidária seria uma forma de fortalecer o movimento e garantir as melhorias para os seringueiros. Depois de uma passagem mal sucedida pelo MDB, Chico Mendes ingressa no Partido dos Trabalhadores, tornando-se um dos fundadores do partido no Acre. Amigo pessoal do até então deputado federal por São Paulo, Luis Inácio Lula da Silva, Chico conseguiu projeção na esquerda brasileira, fato que o credenciou a candidatar-se a deputado estadual no Acre pelo partido dos trabalhadores e mais tarde a prefeito de Xapuri pelo mesmo partido sendo derrotado nas duas oportunidades.
Todavia Chico Mendes não se sentiu derrotado; Ele não estava sozinho. Com seu discurso cativante e o respaldo de quem viverá os últimos 12 anos na mobilização e criação de sindicatos rurais e movimentos sindicais, Chico conseguiu aliados importantes no Acre e no Brasil. Uma dessas aliadas era Marina Silva então monitora das comunidades eclesiais de base da igreja católica. Era constante ver Chico e Marina pelos seringais do Acre, num esforço pelo fortalecimento das escolas rurais e do projeto seringueiro; Eles visitavam as escolas e falavam aos seringueiros da necessidade de resistir às investidas, cada vez mais constantes e violentas, dos pecuaristas na região. As conquistas alcançadas pelo movimento dos seringueiros tendo a frente Chico Mendes dominavam o cenário político-ambiental na Europa, nos Estados Unidos e no Sudeste brasileiro.
Em Outubro de 1985, Chico Mendes e outras lideranças, com o apoio da antropóloga Mary Allegretti organizaram o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, onde formularam a idéia das reservas extrativistas, como forma de resguardar os direitos dos seringueiros sobre a floresta.
A partir do encontro nacional, a luta de Chico Mendes pela preservação do modo de vida dos seringueiros e conservação da floresta amazônica, chamou a atenção do mundo. Tanto que em Julho de 1987 Chico Mendes recebe o prêmio global 500, concedido pela ONU às personalidades que mais se destacaram na defesa do meio ambiente. Além da medalha Sociedade para um mundo melhor e outros no Brasil e exterior.
A partir do encontro nacional, a luta de Chico Mendes pela preservação do modo de vida dos seringueiros e conservação da floresta amazônica, chamou a atenção do mundo. Tanto que em Julho de 1987 Chico Mendes recebe o prêmio global 500, concedido pela ONU às personalidades que mais se destacaram na defesa do meio ambiente. Além da medalha Sociedade para um mundo melhor e outros no Brasil e exterior.
Ao final dos anos 80, Xapuri cheirava a pólvora, os conflitos pela posse da terra entre seringueiros e pecuaristas chegavam então ao seu ápice, as ameaças a Chico Mendes já eram constantes e na noite do dia 22 de dezembro de 1988 sete dias após ter completado 44 anos, ao sair para tomar banho em sua humilde casa Chico é alvejado com um tiro no peito na presença de sua esposa Ilzamar e de seus filhos Elenira e Sandino. Seu sangue foi derramado na terra e floresce nos corações dos que ainda sonham com a preservação da Amazônia.
“Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário Então eu quero viver.”
Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia.
Chico Mendes em entrevista 1988.
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